sexta-feira, setembro 21, 2007

Jazz in Loko em Tavira:

Dia de praia sereno. A passagem para a ilha ao encontro das ondas, sempre escassas, que arrastam toda aquela salada que sempre nos envolve, em banhos de marés revoltas ... por aqui, sempre tão brandas. O regresso, pela hora do lanche, que o Costa serve na medida exacta para um perfeito dia de Algarve, em pleno Verão. Quase se entende o acepipe como parte da travessia, que no regresso à Fábrica de Cacela, nos repõe em terra firme.

Mais tarde, o jantar em roda de amigos, com o Fernando e a Cristina, e as crianças, que abruptamente se irá interromper para que um concerto apure, ainda melhor, este dia sem mácula.

No Convento do Carmo, bem ao final do dia que se alonga, dobram as dez e meia da noite. São seis, os magos do som, e pelo menos outros tantos na assistência, a atiçar os espíritos inquietos e ansiosos de artistas e demais companhia. Sim, que é de companhia que se trata, em tão intimista e familiar ambiente.

Sassetti emprestou serenidade e discrição ao projecto "In Loko", de Carlos Barreto. Um baixo magnífico, uma guitarra inspirada, bateria e percussão irrepreensíveis. No trompete, Joe Moreira soava, talvez, um pouco a Niels Peter Molvaer.

Sons percorridos de excelência. Audiência serena e apreciadora. Também muitas crianças atentas, até ao adormecer que irremediavelmente ia apagando os olhares inquisidores. Laginha, do ouro lado, recusa a oportunidade que lhe é lançada e aplaude, apenas, mas intensamente. Por fim, todos iremos aplaudir em pé, lá mais para o final.

Os solos, simplesmente deleitam. Não há excepções pois todos são inigualáveis. Detestaria ter perdido, sabendo ...

Portugal igual ao melhor de si próprio. Sim, como tão poucas vezes acontece com esta plenitude. E em Tavira, que continua a saber proporcionar ano após ano momentos irrepetíveis, que importa não esquecer, merecendo que se continue a insistir, sempre ...

Ritmos vagos e mistos. Crescendos inebriantes. A guitarra fez o rock reconhecível mergulhar num jazz "bas-fond". O baixo foi constante, subtil e requintadamente singular. A dupla da percussão/bateria complementou-se sem hesitação.

Nas teclas, Sassetti resiste certamente ao devaneio para manter a discrição. O sopro aparece e remete para outros meandros de um som, talvez "dejá vu", de um outro concerto que foi ... é ... onde... e de quem? Virtuoso sem dúvida, talvez menos pessoal, apenas talvez ...

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