quarta-feira, março 07, 2007

80 anos de ilusão

18 de Junho de 1978. Tinha 15 anos. Era o primeiro dia das férias de Verão. A mochila já estava pronta. No dia seguinte ia acampar com os meus amigos. Um salto mal calculado num jogo de futebol, e uma fractura do maléolo lateral. Seis semanas em casa com o pé engessado. E os amigos no campismo.

Mário Kempes e Rob Rensenbrink foram boas companhias. Johann Cruyff ficou de fora porque se recusou a cumprimentar Videla. E renunciou ao Mundial-78 de Futebol. Como diz o Marx "fazia parte de uma estirpe de futebolistas que tende para a extinção". Mas o maior companheiro que tive nessas férias foi Gabriel Garcia Marquez. Li “Cem Anos de Solidão” de um fôlego. Macondo e a saga dos Buendia. José Arcadio, Aureliano, Arcadio José, Amaranta, Ursula, Remédios. E tantos outros. Ainda hoje tenho dentro do livro a árvore genealógica que fiz da família. Sem pontos nem exclamações, sem tempo para respirar. A comichão na perna engessada era esquecida à medida que me enredava pelo imaginário fabuloso de Gabo. Onde o inverosímil e o mágico não eram menos reais que o quotidiano e o lógico. Logo pedi que me trouxessem o “Funeral da Mamã Grande”, “O Outono do patriarca” e “Ninguém Escreve ao Coronel”

Uns anos mais tarde lembro-me de ter lido “Crónica de uma Morte Anunciada” numa tarde. E o “Amor em Tempos de Cólera” em dois dias. E de me divertir com o relato da “Aventura de Miguel littin, clandestino no Chile” e a “Memória das Minhas Putas Tristes”, lida a 30.000 pés.

Garcia Marquez e o Caribe permanecerão para sempre na minha cabeça e no meu coração. Celebra hoje o seu 80º aniversário. Na Cuba do seu amigo Castro. Não comungo da sua admiração por Fidel. Mas rendo-me ao seu génio.

Bem hajas e Parabéns. Pela tua obra e pela tua vida. Valeu a pena Viver para a contar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tem graça FVaz escrever sobre os "Cem anos de solidão". Como sabe os últimos tempos têm sido um pouco duros para a minha família, assim procurámos a todo o tempo coisas que nos permitam decontrair. A minha mãe ficou contagiada com o meu prazer pela leitura (entre música, filmes, séries talvez seja o meu maior prazer;na minha mesinha de cabeceira tenho contados pela Catarina 19 livros já lidos de Dezembro para cá :-)).
Depois de ter lido "O velho e o mar" de Hemingway, sugeri-lhe precisamente o Gabriel Garcia Marquez. Encontra-se verdadeiramente entusiasmada, apenas perguntou se eu tinha tido de fazer a árvore geneológica :-)
Se tivesse que fazer um top 10 de escritores para mim Gabriel Garcia Marquez ficaria em algum lugar (penso que já li todos os seus livros).
A seguir vou-lhe recomendar "Os Prazeres e as Sombras" a triologia de Gonzalo Torrente Ballester, para mim uma obra fantástica.
Por último os meus parabéns por tornar a incluir nestes "prazeres" o da literatura.

fvaz disse...

Em minha casa os livros também se acumulam mas na secção "ainda por ler".Geralmente só em férias é que consigo arranjar tempo para ler.

Quanto à árvore genealógica dos Buendia hoje tudo é mais fácil:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cem_Anos_de_Solid%C3%A3o