sábado, março 24, 2007

Heróis do Ar

Hoje comecei bem o dia. Depois de meter combustível na BP de Diogo Botelho, sentei-me para tomar café e ler o jornal que vinha anexo ao DVD "Gangs de Nova Iorque". Logo na página 2, uma daquelas histórias que nos fazem bem à alma. Bonita e contra a corrente.

O licenciado em engenharia José Sócrates ficou apeado porque o Falcon que o devia levar ao Conselho Europeu foi desviado para ir ao Funchal buscar um coração que a pequena Nicole, micaelense de 22 meses, aguardava no Hospital de Santa Cruz. O Lince 01 levantou voo com o tenente-coronel Temporão aos comandos, levando a bordo a equipa médica para a colheita de órgãos. O coração doado deixou de bater no Funchal às 22h e bateu em Lisboa no peito da Nicole à 1h25. A Nicole recuperou a face rosada que o seu fraco coração cobrira de azul.

História bonita e contra a corrente. Economicista. Que atravessa a política de saúde. Gastar largas dezenas de milhares de euros para salvar a Nicole é o contraponto à política de gestões hospitalares que recusam que se ministrem tratamentos de quimioterapia que custam milhares mas prolongam vidas, que se injectem anti-angiogénicos que evitam cegueiras.

António Damásio diz que "não há escolha racional acertada na vida real sem a participação das emoções". Juntamente com Hauser publicou um trabalho na Nature em que os individuos com lesões no cortex prefrontal ventromedial (VMPC) respondiam de forma diferente dos saudáveis quando colocados perante dilemas morais. Por exemplo:

"Soldados inimigos invadiram a sua aldeia. Você e outros refugiam-se num sótão [...] O seu bebé começa a chorar. [...] Você tapa-lhe a boca. [...] Para salvar a sua própria vida e a dos outros você precisa de matar o seu filho por asfixia. Você asfixiaria o seu bebé para salvar a sua própria vida e a dos outros?"

Devido às lesões cerebrais as pessoas com lesões no VMPC apresentam emoções anormais, não têm empatia nem compaixão. Para elas a história da Nicole não passará de desperdício de dinheiros públicos. A mim aqueceu-me o coração e, claro, o VMPC.

Moral da História: o Ministério da Saúde tem um tumor no VMPC.

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